terça-feira, 18 de maio de 2010

Da menina da cozinha

Velórios sempre serão estranhos para mim. Não gosto muito, me dá uma sensação ruim. Não sei como me portar e sempre fico nervosa. Mas, por mais bizarro que isso pareça, me sinto muito à vontade em velórios de pessoas próximas e queridas. Quando minha tia morreu, lembro que passei o dia no velório contando relembrando histórias com tios e primos. Conversamos, rimos, contamos piadas, nos confortamos e choramos. Era uma intimidade gostosa, e aquele momento tão triste tornou-se reconfortante por estarmos juntos, sabendo que a presença um do outro não apenas nos confortavam, como o fazia também com o espírito dela.

Hoje senti algo semelhante durante o velório de seu Arnóbio. Não pude deixar de sorrir ao ser reconhecida por Dona Clécia como “a criança que dormia na cozinha”, relembrando da época em que passei férias na casa deles, na Bahia, quando muito nova e seu Árnobio levou um susto quando eu adormeci na cozinha, achando que eu tinha desmaiado. Lembrei dos domingos na casa do casal, onde costumava ir com a neta deles, Maria Clara. Entre as tristezas, a nostalgia, as lembranças, que os velórios costumam trazer.

Foi impossível não me sentir da família, ao sentar com a mãe da Rayza e a Janaina, que me conhecem desde pequena, e conversar, não apenas sobre o dia que havia se passado, mas sobre o meu futuro, histórias do passado, e como eu e o grupo com quem fui criada (Rayza, João, Catharina, Samuel, Maria Clara e Gabriel) estamos começando a trilhar nossos caminhos.

A verdade é que eles vão ser sempre minha família. Não importa quanto tempo eu fique sem conversar com a Maria Clara ou sem ver a Rayza e o João, fomos criados juntos, somos quase irmãos. Estaremos sempre prestando atenção na vida um do outro de longe (ou nem tão longe assim). Sempre com esse carinho fraterno. Tenho certeza que, se chegar a casa da Auriza, mesmo com a Rayza não morando mais lá, ela irá me atender, perguntar se quero comer alguma coisa e se preciso de dinheiro emprestado pra pegar o ônibus, como já fez antes.

Exatamente por isso, foi impossível não sentir como se estivesse perdendo um membro da minha família. Um tio avó distante, que tinha muito carinho. Foi impossível não querer consolar seus netos, com quem fui criada desde pequena. É, a garota da cozinha também sentirá saudades.

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