domingo, 17 de fevereiro de 2008

Meu American Dream

Eu acho que sou um ser estranho. Tenho medo de concursos. Minha mãe tava querendo que eu fizesse um e eu morria de medo. Não de fazer a prova e não passar, mas o contrário. De passar. Tinha medo de começar a viver uma vida certinha, com horárias e rotinas. E quando visse tria arranjado um namorado perfeito que me entendesse e me casaria. E então eu iria ter um emprego e um dinheiro garantido para vida toda, um marido e mais tarde filhos. E compraríamos uma casa bonita, um pouco afastada, onde teríamos um cachorro e um gato. Iríamos brigas algumas vezes e talvez nos separar, mas aí perceberíamos que apesar de tudo ainda gostávamos um do outro e nos entendíamos e – talvez – ainda nos amassemos. E quando fossemos velhinhos com nossos netos iríamos pensar em como nossa vida foi maravilhosa. E eu pensaria “foi horrível”. Esse é o meu maior pesadelo, ter uma vida comum.

Eu não quero nada disso, não quero casa, marido ou filhos. Não não quero emprego certo e dinheiro certo. Eu quero o incerto, o inesperado. Eu não gosto do perfeito, eu gosto do quebrado. Da bagunça. (Nossa, como eu adoro a bagunça!). Eu quero aventuras. Eu quero viajar de carro ate o mar para ver o sol nascer. Eu quero viajar de mochila pela Europa sem dinheiro, arranjando bicos e dormindo em albergues nojentos. Eu quero deitar nos asfalto e olhar as estrelas. Eu quero merecer pelos meus empregos e não os receber de mão beijada. Eu quero me divertir. Ficar na rua de madrugada olhando as estrelas, ir trabalhar morrendo de sono no dia seguinte e apagar no sofá... Se tiver sofá na minha casa. Eu quero morar em ao menos cinco lugares diferentes, onde (em ao menos um) ninguém me conheça. Eu quero morar num apartamento pequeno, com um gato, uma tv e um quarto. Eu quero ser uma repórter fudida que reclama que não tem dinheiro, mas que (adora e) se diverte com isso.

E eu sei que isso é uma fantasia louca. E que nada disso vai se realizar. E que são sonhos de uma menina que nunca precisou realmente lutar por nada, que vive numa casa de sonhos de fadas e não sabe o quanto o mundo é frio e cruel. Mas esse é o meu mundo cor-de-rosa. Ele pode ser diferente e não ter flores, casas com cercas bancas e um cachorro. Mas é o meu mundo. E eu me seguro a esses sonhos infantis de alguém que não sabe nada sobre a vida, pra ir vivendo. Sobrevivendo. Eu sei que são sonhos impossíveis, e é bem provável que eu viva no mundo descrito no primeiro parágrafo. E que talvez eu goste dele, que ele seja realmente um mundo bom. Mas definitivamente, não é ele que faz meus olhos brilharem e me deixa acordada as noites sorrindo, enquanto imagino o futuro.

(e sim, eu sei que daqui a dez anos, não vai ser esse o futuro que eu vou querer pra mim. Vai ser a casinha perfeita em um bairro calmo. Mas eu realmente não quero pensar nesse futuro. Eu realmente não quero pensar em mim sensata. Eu quero aproveitar minha inocência juvenil e vê-la se despedaçar.)

2 comentários:

Anne Nascimento disse...

eu quero dinheiro.
mas não quero filhos, nem marido, nem sobriiinho =~~

Ana Helena disse...

eu tbm penso essas coisas as vezes...
mas tenho tentado não fazer mais planos de vida...=*