terça-feira, 19 de outubro de 2010

1.

Ele costumava lhe arrancar pedaços. Um pela manhã ao lhe beijar as costas do pescoço. Ela odiava isso, mas permitia porque sabia que ele gostava. Algumas vezes quando preparava uma surpresa. Toda vez que bebia e lhe dizia tantas verdades inconvenientes – aquelas que ela se esforçava para esquecer. Sempre que transavam. Era nas pequenas coisas, cada vez com mais freqüência. E ela ia ficando fragmentada. Era um mosaico inacabado do que um dia costumara ser. Ao mesmo tempo ele ia lhe deixando novos pedaços, diferentes, para ir juntando pelo caminho. A cada roupa nova que não era muito seu estilo, mas que usava para agradá-lo. Livros que lia para poderem conversar. Músicas novas que escutava naquelas festas horríveis que os amigos dele freqüentavam. Quando percebeu, havia se transformado em uma pintura, totalmente diferente do rascunho inicial.

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