sexta-feira, 18 de junho de 2010

Discurso Superficial


Minhas visões sobre a eleição 2010


Aviso:
Esse texto é de alguém que vai votar na Marina, e isso deve ser levado em consideração, pois não estou sendo imparcial.


Ano de eleição é sempre aquele auê! Neguinho ataca de um lado, fulano retruca de outro, aparece um dossiê falso e o circo ta armado. Fala-se de tudo, principalmente de estratégias políticas. Se fulano apoiar cicrano, temos tantas por cento de chances, e agora que a pesquisa mostrou o aumento de tal candidato, vão fazer isso, isso e aquilo... Mas as propostas e planos políticos, que supostamente deveria ser a principal discussão e definiria que rumos vamos dar ao Brasil, ah, isso fica em segundo plano, afinal de contas, é muito mais importante vencer do que avaliar. E cada vez mais o discurso vai decaindo e ficamos na superficialidade do discurso.

Desde que, no ano passado, foi pintado o cenário Dilma e Serra nas eleições eu entrei em desespero. Eu tinha birra com a Dilma, porque no inicio do governo Lula (e antes de cogitarem seu nome como candidata) ela havia dado uma infeliz declaração afirmando que não acreditava em aquecimento global, e mostrando uma visão de desenvolvimento extremamente atrasada, principalmente para quem cresceu no Acre e acredita na florestania (a verdadeira, não a ainda incompleta do Governo do Acre).

E o Serra, é o Serra né. Direita, conservador, e apesar de ter uma sensibilidade ambiental um pouco maior que a da Dilma, peca no aspecto social. Fora que seria um enorme retrocesso histórico.

Como sou uma pessoa política (ver que há diferença entre pessoa política e pessoa partidária, por favor), entrei em desespero, porque eu queria votar em um presidente, mas não conseguia votar em nenhum dos dois. Na mesma época comecei a ler um livro do Saramago, que para a minha tristeza faleceu hoje, chamado “Ensaio Sobre a Lucidez” que fala sobre uma cidade onde todos seus habitantes votam em branco, seguidamente nas eleições, fazendo com que primeiro, o governo tente implementar uma ditadura, para depois acabar fugindo com medo de uma revolta, deixando com que a cidade se governe. Admito que não consegui terminar de ler o livro em meio aos afazeres do dia-a-dia, mas fiquei sonhando o quanto seria bom se isso acontecesse.

Foi então que surgiu Marina. E meu voto acabou sendo dela por motivos óbvios: Ela falava exatamente aquilo que eu queria ouvir do meu candidato em relação ao meio ambiente e é, na minha visão, um exemplo de ética. Contou também o fato de eu conhece-la pessoalmente, mesmo quando criança, e me lembrar como em meio a tantos adultos com quem meu pai trabalhava, ela era uma das únicas pessoas que me ouvia: eu, uma simples criança. Eu a admirava por isso.

Animei-me por essa eleição. Uma aposta improvável, mas que me era mais verdadeira. Depois, começou a me parecer uma aposta provável. Logo que começaram as discussões políticas, pensei “Essa será uma eleição diferente.” Claro, com Marina no jogo os políticos teriam que sair do usual bate-rebate para começar a discutir, avaliarem, se auto-avaliarem. E, em certa medida, isso aconteceu. Logo a Dilma começou a estudar sobre meio ambiente, e rebateu Serra com índices sociais, obrigando ele a melhorar suas propostas neste quesito.

Mas hoje me desanimei com essa idéia. Enquanto os candidatos estão fazendo uma campanha, ate agora, sem brigas, e onde em certa medida eles se respeitam... Seus cabos eleitorais, seguidores, ou apenas simpatizantes, fazem o oposto. Acusam os oponentes e se mantém em uma discussão superficial. Enquanto Mariana tenta falar sobre uma nova visão de desenvolvimento, as pessoas lhe perguntam sobre aborto. Enquanto ela apóia a criação de um instituto que discorra e tente encontrar soluções sobre segurança pública, as pessoas lhe perguntam sobre a liberação das drogas.

Sei que há, devido às diversas experiências de preconceito vindo de pessoas que seguem a religião de Marina, é normal ter medo. É normal ter dúvidas. Mas ta na hora de nós, população, sociedade, tentar avançar um pouco na discussão não? Ta na hora, de nós, pararmos de ser preconceituosos. Porque, eu não vejo nenhuma diferença entre um evangélico que me ofende por eu ser ayahuasqueira de um ayahuasqueiro ofender alguém porque ele é evangélico. Os dois estão errados. E na maioria das vezes eu vejo que nós estamos fazendo com Marina exatamente aquilo que nós criticamos que ela irá fazer.

Esse não é um problema só com a Marina, o mesmo acontece com os outros candidatos. Dilma é a terrorista. Serra vai vender o país. A diferença é que ninguém se importa qual a religião de Serra ou se Dilma é favorável ao aborto. Eles não precisam ter opnião sobre isso. Marina preciso. E ate agora eu não vi de nenhum candidato propostas na área de saúde, educação, comunicação, entre tantos outros.

Que tal em vez de falarmos sobre o aborto, decidirmos discutir sobre os motivos que levam a ele? Políticas para diminuir o número de gravidez indesejado ou durante a adolescência, educação sexual, e medidas que devem ser tomadas para melhorar o problema.

Que tal em vez de falar sobre casamento gay (que eu concordo, e é um dos pontos de divergência que tenho com a minha candidata) não falamos sobre a espetacularização do movimento GLBT e a implementação de campanhas educativas (que demonstrem que homossexualismo não é doença ou perversão).

Mas não, nós preferimos ficar na nossa zona de conforto do discurso superficial. É mais fácil. E no meio disso tudo, eu vou cada vez mais simpatizando com os candidatos e odiando seu eleitorado.

Um comentário:

Deyse, a Anna disse...

Gostei do post, verii! ;)
Aquilo que tu disse sobre fazer crônicas com teu pai, tenta fazer dar certo? ;X Põe no youtube e vamo lá! To torcendo pra dar certo!


Beijo