quarta-feira, 20 de janeiro de 2010


Luiza, eu preciso fazer uma confissão. Eu não gosto de despedidas. Tem um gosto amargo, que me lembra todas as oportunidades perdidas de dizer adeus, e todas as vezes que a palavra saiu de minha boca mesmo desejando que aquele momento não chegasse. Mesmo que sejam momentos bonitos, querida. Mesmo que seja que nem aquele dia, em que sabendo que era a última vez que nos veríamos sentamos na beira da calçada e fumamos um último cigarro. Mesmo nesses momentos eu não gosto de despedida. E preferia não tê-las feito, ou ter feito, mas sem saber que se tratava de uma última vez. Que seja como da primeira vez, sempre. Sem cara de despedida. Porque, querida, quando chega essa hora eu faço como o meu cachorro quando tinha 12 anos: desapareço. Fico presa nos meus pensamentos, imaginando como seria a tal da despedida, o que falaria, mesmo sabendo que não diria tais coisas, ou por falta de coragem ou excesso de emoção. Então, eu prefiro não me submeter a esses momentos. Fujo, mesmo que digam que não deveria, que este é um momento importante da vida, que ela não é sempre colorida com jujubas de elefantes cor de rosas. Não me importa, eu não gosto de despedidas. Então vamos ficar com aquele último dia, na sua casa, assistindo uma séria de televisão qualquer que passava em um dos milhares de canais da Sky. Vamos apenas lembrar daquele último beijo Luiza, escondido como tantos outros no banheiro do seu quarto. Foi por isso que não te liguei ontem. Foi por isso que hoje não fui ao aeroporto. E, por favor, não me odeie.

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