quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Tem certos e-mails que emocionam

Dona Bibi, seu texto me emocionou. Não somente no sentido estético-literário, sim, é isso mesmo, você faz literatura e arte. Para fazer isso é preciso ter “sentimento e ser verdadeiro com o que faz”. Gosto da maneira como você se expõe e tudo mais. As tuas palavras são claras, diretas na alma. E foi aí que o seu escrito me pegou. A maneira como você coloca a questão do medo me levou a muitos lugares. Pense em meus filhos, e me preocupo em como eles podem estar enfrentando seus medos.

Ana Terra talvez esteja com medo. Ela vai para a África do Sul (só 22 anos) com seu companheiro Tshepo. Deve estar passando em sua cabeça como será tudo: o mestrado, o casamento e todas as suas implicações, o relacionamento com a nova família, um novo país para descobrir, a vida em outro continente, as saudades da família e de sua irmã belzinha.
Isabel por certo também deve ter enfrentou muitos medos ano passado, quando ficou morando sozinha (com 20 anos), sem a companhia de Ana, porque elas nunca haviam se separado. E ela teve que assumir a organização das contas do apartamento, da feira, da casa, da roupa, da comida, e da monografia de conclusão do curso de artes cênicas, além de todas as novas descobertas do mundo espiritual, pois, fardou-se na barquinha da madrinha Francisca, em janeiro 2007.

Tem também o Emanuel, que fez vestibular para medicina com o Caio. Eles não passaram e o Caio agora vai fazer medicina em Cuba (não, não é castigo é escolha mesmo). O Caio é muito corajoso, mas, o Neca pode estar pensando que ele está com medo. Será que foi por isso que ele falou que se “vocês quiserem” ele também vai para Cuba estudar. Acho que ele quer dividir com o Caio seus medos do desconhecido, nessa nova fase de sua vida. Ou talvez eles queiram partilhar a coragem de enfrentar uma experiência como essa. Eles são muito amigos, como você e Raysa.
Também fiquei pensando no que pode acontecer com meu filho Suiá e do que ele tem que enfrentar no “lugar onde ele está”. Se ele vai conseguir sair de lá e, viver tudo de bom que a vida tem para lhe dar. Tenho medo também das coisas que o meu netinho tem passado e virá a passar, e como eu posso protegê-lo.

Por isso tem algumas músicas eu não posso ouvir, pois, me dilacera a alma (Meu guri/Chico Buarque): “Eu consolo ele. Ele me consola... Boto ele no colo pra ele me ninar..”. Ou quando ouço o Lenine: “Será que é tempo que lhe falta pra perceber? Será que temos esse tempo pra perder? E quem quer saber? A vida é tão rara, tão rara. Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma. Até quando o corpo pede um pouco mais de calma. Eu sei. A vida não pára. A vida não pára, não”.

No entanto, há duas músicas que ouço muito (Nada além/Los Porongas), especialmente quando o Diogo canta “(...) anseio temperados com receios paranóias e outras dúvidas”. “(...). Nosso pequeno moderno mundo, pequeno moderno. Nada doce, nada eterno. Infinidade de termos. Para sermos iguais. Nada além do que satisfaz”.

Então eu ouço Zé Ramalho no meu pc: “Na presença de um ser iluminado. Como um cego fiquei tão ofuscado. Ante o brilho dos olhos que olhei. Pode ser que ninguém me compreenda. Quando digo que sou visionário. Pode a Bíblia ser um dicionário. Pode ser tudo uma refazenda. Mas, a mente talvez não me atenda. Se eu quiser novamente retornar. Para um mundo de leis me obrigar. A lutar pelo erro do engano. Eu prefiro um galope soberano. À loucura do mundo me entregar” (Canção Agalopada).

Sabe, todo mundo tem medo. Mesmo nós (eu e teus pais, que já passamos dos “enta”/quarenta, cinqüenta...). A gente só tem consciência disso quando “fica adulto”, independente da idade em que isso aconteça.

Mas, suas palavras trazem um consolo fundo. Destacando: “Eu sei escolher os meus amigos. Sempre soube. E todas essas pessoas, lugares, cores e sabores... Tudo que é novo deixa de ser depois de um tempo. Não tem porque ter medo, não é? E eu estou me dando bem. E eu estou acompanhando. E eu não estou ficando para trás. E o mais importante, eu não estou me perdendo. Quando questionada, eu sei quem eu sou. Eu sei o que quero. Eu sei o que não quero. Eu sei o que considero bom e ruim. E sei me impor quando preciso. Eu não preciso mais ter medo. Só preciso me lembrar disso. E às vezes é difícil”.

Pra terminar. Lembro quando eu e sua mãe estávamos grávidas. Eu do Neca, e a comadre de você, fazíamos planos para a chegada de vocês. Você seria a primogênita, Neca o caçula. E no dia do seu nascimento, o neguinho (padrinho Zálistom) chega à minha casa esbaforido “Cuida mulher, me arranja umas roupinhas que a outra já vai nascer”. Neca já estava com três meses e suas roupas de recém-nascido todas guardadas. Escolhi uma branca (afinal somos do Daime): camiseta, blusa, calça comprida, meia e um casaquinho, foi o nossa lembrancinha de nascimento. De lá para cá tenho te acompanhado nesses dezoito anos, e me orgulho de você. Agradeço a Deus pela sua existência em nossas vidas. Te amo, Maria.

Tia Maria (ou deveria eu chamar de Mãe Maria?) obrigada pelo texto. Adorei e fiquei muito emocionada com suas palavras. Acho que medo é um sentimento que todos os seres humanos tem, e tentamos lidar com ele da melhor forma possível. Espero que estejamos todos lidando com ele correctamente.

PS a todos: Estou sem internet. Ficarei off ate dia 05

5 comentários:

Igor disse...

tbm queria ir estudar medicina em Cuba... rsrsrsrs :****

Manu Falqueto disse...

E o nosso medo de ter medo, vai continuar...
às vezes é muito dificil mesmo
mas ainda bem que existem essas pessoas q nos ajudam a lembrar o dificil

p.s.
tomeio vergonha e resolvi escrever de novo
xD
bjim
saudades

Samuel Bryan disse...

de todas as composições que nos tornam humanos, talve a do medo seja uma das que mais me fascina, justamente por ser uma das que mais nos humaniza...

eu voltando e voce saindo
^^
pelo jeito eu perdi muita coisa por aqui... mas blz, eu demoro pra entender, mas uma hora eu entendo...

ah, foi bom ter visto voce antes de viajar (sim, li seus arquivos)

audrey comanda, al goore não!
=*

Nattércia Damasceno disse...

Ultimamente, só esses e-mails me emocionam. Gosto quando as pessoas me escrevem contando as novidades e perguntando 'como vai você?'
Esse e-mail também me emocionou. Tive notícias da Ana Terra, que há tanto tempo não vejo. Estudamos juntas no Colégio Moderno e aquela escola marcou muito.
* Hoje é dia 5. Amanhã esteja aqui, mocinha ;)
Beijos

Anônimo disse...

Eu tenho medo do desconhecido, do escuro (!), de cobras, de animais dos quais eu nunca vi e de altura. Não é da altura em si e sim do impacto da queda, caso eu caia. Duh.

Dia desses recebi um e-mail lindo. Dia desses não, ano passado.